Valor da Terra

Mais do que nunca, o clima deve esquentar!


Em janeiro de 2013, Barack Obama fazia seu discurso anual de prestação de conta no congresso americano – quando afirmou categoricamente que “a mudança climática é um fato”, ao mesmo tempo em que a neve caía nos arredores da Casa Branca. Incrédulos, alguns congressistas faziam sinal de negativo com a cabeça, como se dissessem: como o mundo pode estar aquecendo, sendo possível fazer picolé instantâneo apenas atirando um pacote de ki-suco pela janela?

Foi preciso que o Dr. John Holdren, conselheiro de ciência e tecnologia de Obama, intervisse: “Se você estiver ouvindo que ondas de frio são uma prova contra o aquecimento global, não acredite. Clima é um padrão de tempo no espaço geográfico e no decorrer das estações. Evidências crescentes sugerem que o tipo de frio de frio extremo experimentado nos EUA, é um padrão que podemos esperar com frequência crescente, à medida que o aquecimento global continua”, disse John.

Climate-Change-Snowball-e1425183115356-665x385Aparentemente nem todo mundo ficou convencido. Meses atrás, o Senador Jim Inhofe, que preside a Comissão de (pasmem!) MEIO AMBIENTE e Obras Públicas, jogou uma bola de neve no plenário do Senado, para debochar e negar o Aquecimento Global, ao qual chama de “maior hoax já inventado contra o povo americano”. Não é a primeira que o irreverente Senador apronta uma dessas: no inverno de 2010, Inhofe construiu um iglu com sua família e o batizou carinhosamente de “Al Gore“. O redator de ciência do The New York Times, Justin Gillis, comentou esse tipo de reação dos congressistas e de parte da população: “Ela diz mais sobre como os humanos percebem o mundo que sobre o clima. Tempo e clima não são a mesma coisa, mas tendemos a pensar que o que acontece agora está acontecendo por toda parte”. Gillis ainda mostra que, desde 1985, a duração do frio no nordeste americano vem caindo, e que provavelmente esse fato esteja na raiz do pânico atual em relação ao frio. “Há 20 ou 30 anos não fazia tanto frio, e agora qualquer onda ártica parece extraordinária” completa o jornalista.

Um artigo recentemente publicado na revista Science desmistifica as alegações de que o “abrandamento” aparente do aquecimento global na última década invalidaria o consenso científico de que a ação humana seja o principal agente causador da mudança climática. O artigo mostra que, apesar da desaceleração do aquecimento ser real, ela é apenas uma “falsa pausa” – causada pela interação dos oceanos. O estudo, através de dados observacionais combinadas a uma grande coleção de modelos climáticos que avaliam o clima do Hemisfério Norte ao longo dos últimos 150 anos, demonstra os pontos do tempo em que a Oscilação Decadal do Pacífico e a Oscilação Multidécada do Atlântico desempenharam papéis fundamentais na produção de tendências de temperatura. Esses efeitos se combinaram para causar uma “falsa pausa” no aquecimento no início do século 21.

16a98855d0e8c0d68edeba6d598a5c5dA conclusão geral do estudo constata que as temperaturas frias do Oceano Pacífico compensaram os efeitos do aquecimento global em curso. As temperaturas de transição do Oceano Pacífico, fazem parte de um ciclo de duas décadas (a Oscilação Decadal do Pacífico), que incorpora, por exemplo, o nosso conhecido El Niño. O último evento com início no final da década de 90 está dentro da fase fria do Pacífico. Quando esta fase chegar ao fim, e uma transição para a fase mais quente ocorrer, a “falsa pausa” também acaba, e as temperaturas retomarão sua escalada ascendente. É preciso lembrar, com bastante preocupação, que apesar dessa pausa aparente ser utilizada por muitos negacionistas como prova de que as flutuações na temperatura global são naturais (o que é verdade) e independentes da interferência humana (o que é contestado por quase 99% da produção científica), 14 dos 15 anos mais quentes já registrados ocorreram do ano 2000 para cá!

O principal autor do estudo, Byron A Steinman, explicou os impactos do estudo para o The Guardian: “A publicação tem implicações importantes para a compreensão da desaceleração. Eu acho que, provavelmente, a principal questão que as pessoas devem compreender é que há aleatoriedade no sistema climático. O recente abrandamento de forma alguma invalida a ideia de que continuar queimando combustíveis fósseis aumenta a temperatura da superfície da Terra, e isso representa um peso substancial na sociedade humana.”

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O co-autor do estudo Michael Mann, reitera: “Nossa conclusão de que o arrefecimento natural no Pacífico é o principal contribuinte para a desaceleração do aquecimento em larga escala é consistente com demais estudos recentes, incluindo um estudo demonstrando que ventos mais fortes do que o normal no Pacífico tropical, durante a última década, levaram ao aumento da ressurgência de águas profundas, mais frias, no leste do Pacífico equatorial.” Michael conclui alegando que, talvez a questão mais preocupante do seu estudo, seja que a “falsa pausa” possa estar influenciado que tomadas de decisão energéticas, que deveriam ser pensadas urgentemente para evitar alterações climáticas perigosas, simplesmente não estejam sendo consideradas.

Cientistas e pesquisadores do clima esperam que estudos como este, mantenham a atenção dos governantes focada na Conferência sobre Mudança Climática das Nações Unidas (COP 21), que ocorrerá em dezembro deste ano em Paris. O evento tem como objetivo principal traçar um novo acordo mundial para medidas de combate ao Aquecimento Global, que entrará em vigência a partir de 2020, substituindo o atual Protocolo de Kyoto.

Fonte: INQUISITR e TIME.


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André Gomes

Fã de Homem-Aranha, Sagan, Hitchens e Yuyu-Hakusho, é considerado por ele mesmo o melhor guitarrista do seu quarto (há controvérsias). De tanto ser chamado de “fiscal da natureza”, decidiu cursar Gestão Ambiental na UNB, e agora, diferentemente dos seus heróis da infância, pretende cobrar para salvar o mundo. Sempre disposto a debater sobre política, futebol e religião (só para contrariar o ditado popular), aprendeu que Teoria é diferente de teoria, que não é nada menos do que poeira das estrelas e que a resposta é 42.

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