Conjecturas Histricas

Vlad Draculea, o príncipe empalador


O homem que deu origem à lenda do Conde Drácula era capaz de provocar mais terror que seu alter ego vampiresco ficcional. Vlad Tepes, o filho do Demônio, escreveu sua história com medo e sangue!

O temido senhor feudal dos Cárpatos e príncipe da Valáquia (atual Romênia), Vlad Tepes III, foi um grande voivoda (palavra eslava que originalmente designava o principal comandante de uma força militar) e teve seu apogeu governando a região por 3 vezes: em 1448, de 1456 a 1462 e em 1476. Praticava uma política independente do império vigente, o poderoso Império Otomano, a única potencia muçulmana a desafiar o crescente poderio da Europa Ocidental entre os séculos XV e XIX.vlad

Nasceu em 1428, em Sighisoara (a Transilvânia). Era o primogênito do príncipe Vlad Dracul (que significava “dragão”, daOrdem do Dragão, e ainda “demônio” em romeno), igualmente conhecido pela sua crueldade, e neto de Mircea, o Grande, soberano da Valáquia. Vlad herdou a ousadia e o caráter sanguinário do pai, sendo por isso ser chamado Draculea, que significa “filho de Dracul”, ou “filho do demônio”. Um enviado papal em missão na corte húngara descreveu-o do seguinte modo: “Não era muito alto, mas corpulento e musculoso. A aparência era fria e impunha certo respeito. Tinha um nariz aquilino, rosto avermelhado e magro e sobrancelhas negras e espessas que conferiam-lhe um aspeto ameaçador.”

Sendo filho do Princípe da Valáquia, a educação de Vlad III foi a típica dos filhos da Nobreza pela Europa, e ele aprendeu tudo o que era demandado a um Cavaleiro Cristão sobre guerra e paz. Naqueles árduos tempos, havia muitos inimigos cercando o território romeno, com ameaças constantes de invasão (entre elas, os Otomanos e os Húngaros, com seus grandes exércitos), além dos conflitos internos entre os nobres que desejavam ascender ao poder.

Casa de nascimento de Vlad, em Sighişoara. Hoje, uma atração turística.

Casa de nascimento de Vlad, em Sighişoara. Hoje, uma atração turística.

A famosa Ordem do Dragão era uma ordem de origem cristã romana criada pelo imperador romano-germânico Sigismundo em 1408, com as finalidades de proteção da família real, defender a cruz e batalhar contra seus inimigos. Possuía inicialmente 24 membros da nobreza, com a finalidade de fazer alianças políticas e militares, e tinha como um de seus membros convidados e iniciado, Vlad II, que na ocasião era pretendente ao trono da Valáquia. Algumas fontes indicam que uma das funções da ordem era iniciar uma “cruzada” contra os turcos, que haviam invadido a Península dos Balcãs.

Após Vlad II assumir o trono da Valáquia, “vira a casaca”, aliando-se aos Otomanos e combatendo o próprio Sigismundo e todos da Ordem do Dragão, chegando a acompanhar o sultão em vários ataques contra seus compatriotas. O sultão otomano então arma uma emboscada para Vlad II e prende-o sobre acusações de deslealdade. Vlad II, que não era exatamente o que chamaríamos de um pai amoroso, deixa então seus 2 filhos (Radu e Vlad III) como reféns, voltando a assumir o trono da Valáquia com o apoio dos turcos.

Em 1447, a Hungria invade a Valáquia e mata Vlad II Dracul e seu filho mais velho, Mircea. Vlad, recém libertado do seu cativeiro, reinou por alguns meses, mas fugiu com medo de assassinado, refugiando-se na casa de um tio na Moldávia. Mas voltou à região em 1456, dando início ao apogeu do seu reinado. Este retorno depois de tanto tempo confundiu os moradores da região, que imaginaram que seu senhora havia voltado dos mortos (algo que pode ter contribuído com as futuras lendas sobre sua imortalidade).

É a partir deste período que começa a se formar sua fama de senhor feudal louco e sanguinário.

Muitas informações se perdem ao longo da trajetória de Vlad III, principalmente a partir de 1462, quando os turcos retomam a Valáquia com ajuda de seu irmão, Radu, e ele pede asilo a Hungria, onde é preso, ficando 12 anos numa torre. Insistindoimg_1272 ainda em ser o príncipe valaquiano após ser liberto, Vlad conseguiu ficar no trono alguns meses, mas acabou morrendo nas mãos dos turcos em 1476, durante uma batalha. No entanto, fontes diferentes tem outras versões para sua morte, como ter sido assassinado por burgueses valaquianos desleais ou até acidentalmente por um de seus soldados. O corpo de Draculea foi decapitado pelos Turcos e sua cabeça enviada à Constantinopla, onde o Sultão a manteve em exposição em uma estaca como prova de que o Empalador estava morto.

Ele foi enterrado em Snagov, uma ilha-monastério localizada perto de Bucareste. Em 1931, quando arqueólogos escavaram o túmulo, não encontraram nada, apenas ossos de animais, o que contribuiu para o mistério que cerca a vida desta figura.

Mas onde nasce o mito? Onde nasce a inspiração para tanta cinematografia, relatos, lendas e bibliografias?

A fama de Vlad III deve-se em grande parte à agressividade e crueldade com que tratava seus inimigos e vassalos. Conta-se que Vlad era capaz de punir uma vila inteira para castigar uma pessoa, e que fazia suas refeições tranquilamente enquanto assistia inimigos serem esquartejados, esfolados e queimados.

Pela dificuldade de fontes e documentos, é quase impossível estabelecer estatísticas sobre aquela época, mas relatos alemães contam que, em um de seus saques, Draculea matou um de seus rivais e empalou todos os habitantes da cidade de Amlas, assassinando cerca de vinte mil pessoas, entre mulheres, homens e crianças.

Mas na região que viveu, ficou famoso pela forte resistência que impôs a invasão turca sendo lembrado pela figura do cavaleiro cristão que defendeu seu povo da dominação islâmica. Ainda hoje é um famoso herói na Romênia. O povo o via como um governante cruel, porém justo, que não tolerava crimes contra seus súditos e dava aos criminosos terríveis punições, sendo o empalamento o mais conhecido. A maioria das atrocidades remetidas a Tepes vem de seu reinado como príncipe, 1456 a 1462. Foi durante esse tempo que ele lançou seu próprio ataque contra os turcos, uma investida bem sucedida inicialmente. Suas habilidades como guerreiro e sua bem conhecida crueldade fizeram dele um inimigo temido.

As crenças são variadas e originárias de varias regiões romenas. São lendas e histórias passadas de gerações a gerações, contos de batalhas, resistências e mitos, fatores que nos deixam muitas vezes em dúvida sobre sua veracidade. A estória muda de acordo com quem a conta. No folclore romeno, é um herói, um líder que inspira orgulho por seus feitos militares e sua brava resistência. Já alemães, turcos e russos consideram-no um tirano sanguinário, sádico e perverso.

E quanto ao Conde Drácula, o imortalizado vampiro baseado em Vlad Tepes?

Les vampires, gravura francesa de 1820.

Les vampires, gravura francesa de 1820.

Entidades vampirescas estão registradas em diversas culturas, como África, Américas e Ásia. Os persas foram uma das primeiras civilizações a registrar lendas de demônios bebedores de sangue, na Babilônia e Assíria, mas alguns historiadores acreditam que algumas destas lendas que podem datar à pré-história. O termo popular “vampiro” que conhecemos hoje teve sua gênese na Europa Oriental, vindo de regiões como os Bálcãs, tendo, no passado, causado histerias coletivas na Europa Ocidental, com casos de perfurações de cadáveres com estacas e diversas condenações por “vampirismo”.

Mas foi a com a publicação do romance Drácula, em 1897, do irlandês Bram Stoker,  que foi estabelecida a moderna concepção de vampiros que hoje conhecemos. Ela é considerada a principal obra literária para o desenvolvimento do mito atual, baseado nos contos e lendas de Vlad Tepes III.

Recomendamos a leitura da obra e a versão cinematográfica Drácula de Bram Stocker, dirigida por Francis Ford Coppola e lançada em 1992.

Apesar da pouca precisão sobre a vida do filho do Dragão, algo em que todos os historiadores concordam é que nem mesmo a ficção fez juz ao terror que Vlad, o Empalador, impunha sobre aqueles que tiveram o azar de desagradá-lo!

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O vídeo abaixo mostras algumas imagens do Castelo de Bran, que Vlad utilizou em várias ocasiões para fins militares durante seu reinado no século XV. Acredita-se que Ţepeş tenha passado vários dias fechado nas masmorras enquanto os otomanos controlavam a Transilvânia.


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Alisson T. Araujo

Gaúcho dos que gosta de um chimarrão bem amargo, acadêmico do curso de História e pesquisador, técnico em radiologia, músico, guitarrista e um amante da libidinosa Ciência e Filosofia. Seu foco em história é povo, cultura e religião, com ênfase em monoteísmos, suas influencias, origens e a eterna dúvida sobre sua verdadeira função social. Fã de cinema, música, séries, HQ’s e cultura pop.

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8 respostas

  1. Adriano Tré Adriano Tré disse:

    Muito boa a leitura, vale a pena!

  2. David Ragazzi David Ragazzi disse:

    Curiosamente na Romênia, ele é tido como herói. Inclusive o mais recente filme Dracula retrata isso. A empalação era uma forma de desestabilizar os soldados turco-otomanos que estavam em uma estrondosa vantagem numérica. Muitos soldados quando chegavam na Romênia e via seus companheiros empalados deserdavam. Como estratégia funcionava, agora se era sadismo, eu não sei. Talvez passou a ser….

  3. João disse:

    Ótima matéria! Poderia indicar referências e fontes para me aprofundar nos estudos sobre este assunto? Obrigado.

  4. Gabriel Arruda Burani 🙂

  5. Não foi a condessa sangrenta ?

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