Opinião: CARTA A UMA NAÇÃO CRISTÃ


CARTA A UMA NAÇÃO CRISTÃ
(Letter To a Christian Nation)
Sam Harris, 2006

“Segundo a interpretação mais comum da profecia bíblica, Jesus só vai voltar depois que as coisas derem errado – terrivelmente errado – aqui na Terra. Portanto, não é exagero dizer que se Nova York de repente virasse uma grande bola de fogo, uma porcentagem significativa da população Mundial veria um lado auspicioso na nuvem em forma de cogumelo que se seguiria. (…) Deve ser mais do que evidente que crenças deste tipo pouco farão para ajudar-nos a criar um futuro duradouro para nós mesmos, social, econômica, ambiental, ou geopoliticamente. Imagine as conseqüências se qualquer parcela significativa do governo dos EUA realmente acreditar que o mundo está prestes a acabar e que seu fim será glorioso. O fato de quase metade da população americana aparentemente acreditar nisso, baseando-se puramente em dogmas religiosos, deve ser considerado uma emergência moral e intelectual.”

Definitivamente, Sam Harris não pode ser considerado alguém de meias palavras. Em “CARTA A UMA NAÇÃO CRISTÔ, o autor em momento algum poupa o leitor da sua argumentação intensa e incisiva, apresentada sem qualquer preocupação em abrandar a dureza da realidade que pretende expor. Chega a ser surpreendente que um livro tão breve possa conter um exame tão preciso. O segredo talvez resida no desejo de seguir as regras que devem ser obedecidas na escrita de uma carta: concisão e clareza, sem muito espaço para suavizar o que deve ser dito.

E que não haja dúvidas com relação ao argumento que ele deseja expressar: Harris defende veementemente que as religiões não são apenas inúteis (e uma colossal perda de tempo e energia para a humanidade), mas um enorme perigo que ameaça o pensamento livre, o avanço científico e todos os princípios de laicidade que protegem a sociedade moderna do fundamentalismo religioso.

O livro é escrito no formato de uma carta aberta aos cristãos dos Estados Unidos (um contingente de 150 milhões de pessoas), dirigido diretamente ao leitor, o qual é tratado por você, como no trecho: “Se você acha que Jesus ensinou apenas a regra do amor ao próximo, você deveria reler o Novo Testamento.” Certamente, os leitores cristãos irão sentir-se incomodados com o dedo em riste apontado para si, porém Harris deixa bem claro, já no início do livro, que seu propósito é atingir as pretensões intelectuais e morais em suas variedades mais fervorosas. No entanto, é impossível que mesmo cristãos mais liberais e moderados não fiquem em sua mira em algum momento do livro. Aliás, sua verve não poupa outras religiões, e nem mesmo os irreligiosos. Sam Harris ataca a condescendência com o sagrado alheio com o mesmo vigor com que lida com os absurdos realizados pelos religiosos em nome da fé.

Ele evidencia que há um conflito inevitável entre religiosos (moderados ou não) e descrentes. Em suas palavras, não há meio termo: ou os cristãos estão certos, ou errados! Ou a Bíblia é o livro sagrado no qual encontram-se os ensinamentos e mandamentos divinos ditados por Deus, ou não é. Se os cristãos estiverem corretos, irão usufruir da vida eterna por terem seguido a palavra de Deus na Terra, enquanto aos descrentes não restará nada senão o amargor do sofrimento eterno por não ter aceito a verdade pela fé. Porém, se estiverem incorretos, estão perdendo tempo em sua única oportunidade de viver, dedicando uma considerável parte da sua existência a uma fantasia limitadora e irracional, enquanto os descrentes estão vivendo uma vida digna e plena, livre de amarras intelectuais e de compromissos que jamais serão recompensados.

Analisando várias contradições da Bíblia, Harris põe em xeque a discutível moralidade da qual o livro sagrado supostamente deveria ser guia. Questiona a proverbial sabedoria bíblica, cita absurdos dos evangelhos e desnuda os aparentes “ensinamentos” que, ao invés de promover virtudes humanas inquestionáveis, como a paz, a solidariedade e a aceitação incondicional, incentiva comportamentos e atitudes que dificilmente poderiam ser classificados como típicos de alguém que verdadeiramente “ame o próximo”: a escravidão, o sexismo, o preconceito, a xenofobia, a vingança e a intolerância.

Não à toa, o livro é considerado um libelo contra o cristianismo, que colocou Harris na posição de um dos mais temidos (e odiados) antirreligiosos da atualidade. A obra é uma seta disparada no âmago do fervor religioso, o que fez com que seu autor passasse a ser considerado por muitos tão intolerante quanto os fundamentalistas a quem se dirige.

Cabe ao leitor julgar se a acusação é procedente ou não. Porém, os fatos apresentados no livro são inegavelmente perturbadores. Se houver quem não se espante, ou quem discorde de que é um perigo fundamentalistas influenciarem fortemente as decisões da nação mais poderosa economica e militarmente no cenário mundial, então a mensagem de Sam Harris tem a importância de um alerta: o risco é enorme, iminente e subestimado!

Nota 10


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5 respostas

  1. Magno disse:

    Esse livro, apesar de bem pequeno é muito poderoso. Por ser incisivo nas suas colocações, Harris deixa o leitor cristão sem palavras, pois como contestar o óbvio? Pra quem é ateu como eu, esse livro serve como uma importante ferramenta para desbaratar pensamentos errados de cristãos que nos pressionam a nos converter a sua fé. Nota 10 é pouco para esse livreto.

  2. kaue leonardo disse:

    Excelente livro!…pequeno, simples e direto
    uma pena que as editoras brasileiras não continuam lançando novas distribuições dos livros sobre ateísmo.
    Tanto este quanto os outros livros do Sam Harris (Fim da fé / Morte da fé) e os do Hitchens são bem difíceis de achar

  3. Henrique de Almeida Lara disse:

    Preciso adquirir o livro.

  4. Bruna disse:

    Oi, gostaria de saber se o livro traz as fontes da argumentação do autor. Espero adquirir em breve.

  1. 30 de janeiro de 2015

    […] recomendado para a temática ateísta: CARTA A UMA NAÇÃO CRISTÃ (Clique aqui para ler a […]

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