O triunfo de Einstein: 100 anos do Eclipse de Sobral


Há 100 anos, no dia 29 de maio de 1919, um grupo de astrônomos do Brasil e do exterior olhava para o céu na cidade cearense de Sobral. Esperavam por um eclipse solar que ocorreria naquele dia, mas as nuvens atrapalhavam a visão e parecia que todo o esforço feito para acompanhar este evento seria comprometido pelo mau tempo.

O objetivo daqueles cientistas era o de registrar o evento e verificar se as previsões feitas com base na Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein seriam confirmadas pelos dados observados. Até aquele momento, não havia nenhuma comprovação sólida de que a teoria do cientista alemão estava realmente correta. Algumas tentativas anteriores foram frustradas também por causa de péssimas condições meteorológicas, mas a equipe em Sobral tinha esperança de que naquela manhã, a observação do eclipse finalmente revelaria se as ideias de Einstein entrariam para a história como uma conquista científica ou apenas um monumental fracasso.

A bem da verdade, não era apenas aquela equipe lotada em Sobral que esperava pelo eclipse naquele dia. Havia outra localizada na Ilha do Príncipe, na África. Ambos os grupos faziam parte de um empreendimento capitaneado pela Royal Astronomical Society e liderado pelo renomado astrônomo inglês Arthur Eddington. Ambos os locais foram escolhidos por que previa-se que neles as condições de observação do eclipse seria melhores. Eddington estava com a equipe na África. No Brasil, a expedição era dirigida pelo também astônomo britânico Andrew Crommelin. Fazia também parte desta equipe o cientista brasileiro Henrique Morize, diretor do Observatório Nacional, que garantiu toda a logística e recursos necessários para que a observação no Ceará fosse bem sucedida.

Se a Teoria da Relatividade Geral estivesse correta, um interessante fenômeno seria observado. Einstein havia teorizado que o espaço-tempo formava um tecido único, flexível, que poderia ser distorcido por corpos possuidores de muita massa. Esta distorção teria como um de seus resultados a gravidade que ocorre ao redor destes corpos maciços (da mesma forma que uma esfera de metal muito pesada sobre uma superfície flexível causa uma depressão nesta superfície, de maneira que esferas menores que rolassem até esta depressão ficariam presas na mesma, “orbitando”a esfera maior). Esse conceito contrastava com a mecânica newtoniana (que era a mais aceita até então): para Newton a gravidade era uma “força” de atração entre massas, e tempo e espaço eram absolutos (não sofriam nenhuma distorção). Então, o objetivo dos astrônomos que tentavam observar o eclipse era o de verificar o quanto a luz de algumas estrelas mais distantes iria ser desviada por causa da distorção no espaço-tempo causado pelo Sol. De acordo com a mecânica newtoniana, o desvio observado seria de 0,86 segundo de arco (o que estaria mais de acordo com uma trajetória retilínea da luz); mas se Einstein estivesse correto, este desvio seria bem maior: 1,75 (o que indicaria que de fato a luz sofreu uma deflexão por causa da gravidade causada pela deformação que o Sol causou no espaço-tempo). Eclipses seriam eventos excelentes para este tipo de observação, e por isto o de 1919 era tão importante.

A equipe da Ilha do Príncipe, no entanto, fracassou em fazer um bom registro do evento, já que as condições meteorológicas não permitiram fotografias muito boas. Em Sobral, para preocupação dos astrônomos na cidade, parecia que ocorreria o mesmo.

O dia amanheceu nublado e chegou a chuviscar. Todos estavam apreensivos, olhando para cima. Os instrumentos estavam a postos, mas as nuvens não colaboravam. Até que, num dado momento, sem aviso, as nuvens afastaram-se um pouco. O Sol apareceu, e às 08:58h daquela manhã, a Lua o encobriu. Foi uma correria em terra: fotógrafos e astrônomos tiravam várias fotos apressadamente, até que, às 09:03h, o eclipse acabou. A primeira etapa do experimento estava concluída. A segunda ocorreria cerca de dois meses depois, quando novas fotos seriam feitas naquele local, para registrar a posição das estrelas à noite, sem a interferência do Sol, quando sua luz supostamente viajaria em movimento retilíneo, para que se pudesse apurar a diferença.


Gravura baseada no registro do eclipse em Sobral. Fonte: Museu do Eclipse

O resultado? 1,98 de curvatura de arco (a pequena diferença para o previsto deu-se por imprecisão dos instrumentos da época)! Einstein havia triunfado!

Foi uma revolução científica. Hoje, o conhecimento sobre os efeitos da Relatividade Geral nos permite o uso de diversas tecnologias, como o GPS, por exemplo. Vários eventos ocorrem hoje pelo Brasil em comemoração ao centenário do evento. Na cidade de Sobral, várias palestras e encontros estão ocorrendo para celebrar a data – que sempre seria lembrada por Einstein com carinho, como se pode perceber pela famosa frase do físico alemão:

“A questão que minha mente formulou foi respondida pelo radiante céu do Brasil.”
— Albert Einstein


Veja tambÉm...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

PAPO DE PRIMATA precisa ter certeza de que você não é um robô! Por favor, responda à pergunta abaixo: * Time limit is exhausted. Please reload CAPTCHA.