Dialtica

Como nasce uma teoria da conspiração


É um espetáculo dantesco testemunhar o nascimento de uma teoria conspiratória!

Não importa muito se há algum grande mistério envolvido, ou sequer se existe alguma dúvida razoável sobre os motivos do acontecimento em questão. Se há uma possibilidade teórica mais macabra do que a versão oficial, potencializada pela rejeição que o ser humano tem de aceitar que o acaso determina mais aspectos da nossa vida que estamos dispostos a aceitar, ela surgirá!

O acidente que vitimou o candidato à Presidência da República Eduardo Campos tem todos estes elementos, e estamos vendo nascer, nas redes sociais e no boca-a-boca, uma teoria da conspiração que tem tudo para ser tão duradoura do que aquela sobre o suposto “assassinato” de Tancredo Neves.

A estória será contada em conversas de botequim, reuniões familiares e até salas de aula. As pessoas envelhecerão, recheando-as com evidências inexistentes cuja negação vai se tornando mais difícil conforme a verdade se distancia no tempo.

Os teóricos da conspiração contarão como o político foi assassinado de forma a parecer um acidente. Mesmo velhos, nas suas mesas de baralho. A verdade (ou a contestação da teoria) não tem apelo dramático suficiente para ser propagada no mesmo ritmo, e um dia não mais importará. A teoria conspiratória já será uma versão alternativa considerada tão válida quanto a oficial.

A aqueles que acreditam que a verdade só pode ser inferida através da análise fria e imparcial dos fatos, e que Ockham nos dotou de um instrumento mais do que suficiente para entender que conspirações mirabolantes são menos prováveis (e por isso, geralmente falsas), resta apenas observar o avanço do boato, falando em nome da razão nas poucas vezes em que lhes forem dadas oportunidades para isso.

Porque, verdade seja dita, é uma grande ilusão achar que toda mentira tem perna curta…


Este texto, como os das demais colunas opinativas do portal, é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente o ponto de vista dos demais colunistas ou do papodeprimata.com.br.


David Ayrolla

David Ayrolla é carioca, mas tem dúvidas se nasceu no planeta certo. Cético até a medula, vê na ciência e na filosofia as melhores ferramentas para a compreensão do universo. Vlogger do canal PAPO DE PRIMATA, tem como principais hobbies cinema, literatura e discussões acaloradas com os amigos (de preferência, regadas a cerveja bem gelada).

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