Ano de eleição, e mais uma vez nos deparamos com, além dos jingles chatos, as famosas pesquisas de intenção de voto. Sim, exatamente aquelas que dão um resultado diferente a cada semana, às vezes completamente distintos – principalmente quando são de fontes diversas!
Estas pesquisas às vezes erram completamente, como no caso das eleições de 2010, em que as pesquisas apontavam que a candidata Dilma Rousseff, do PT, seria eleita presidente no primeiro turno (mesmo dentro da margem de erro). Mas houve um segundo turno, onde a candidata enfrentou o candidato tucano José Serra. E este ano tivemos um outro caso bem peculiar: enquanto a candidata à reeleição Dilma Rousseff estava ganhando em disparada no primeiro turno, em quase todas as pesquisas, houve uma indicando que o candidato tucano Aécio Neves estava na frente (isto antes da morte de Eduardo Campos). Curioso, não?
Antes de mais nada, temos que entender algumas coisas básicas. A primeira delas é a resposta às dúvidas que sempre temos: “Como eles sabem que o resultado será este, se ninguém me perguntou em quem vou votar? Não conheço ninguém que tenha participado dessa pesquisa!”
Primeiramente, temos que destacar que é impraticável que os orgãos de pesquisa entrevistem todos os eleitores. Portanto, só teremos os números reais após as eleições, um momento onde todos são compulsoriamente mobilizados. É uma pesquisa em que todos temos que correr atrás para participar! E uma bem mais fácil, pois só temos uma pergunta a responder: “Em quem você vota?”.
As pesquisas trabalham, então, com apenas uma parcela dos eleitores. O termo técnico para esta estratégia é amostragem. E para que a amostragem represente o todo, deve seguir alguns critérios. Primeiro: deve ter uma quantidade mínima de entrevistados para que possa, no jargão técnico, ser considerada uma representação de todo o eleitorado. É aí que reside a margem de erro: quanto maior for a amostragem, menor será a margem de erro. O número típico adotado pelas agências que promovem as pesquisas é tal que esta margem seja de 3%. Existem formas de calcular esse número, mas são um pouco complexas para serem descritas aqui. Neste ponto, portanto, vou pedir a confiança de vocês (aqueles leitores mais céticos que quiserem entender melhor podem pesquisar por “distribuição normal” – há, no livro que citei na meu último artigo, uma explicação muito didática sobre o assunto).
Estes cálculos indicam, com uma confiança de cerca de 70%, que o valor real está dentro da margem de erro. Assim, se por exemplo um candidato X tiver, na média, 32% das intenções de voto, com uma margem de erro de 3%, então:
32 – 3 = 29%
32 + 3 = 35%
Podemos estimar, com 70% de certeza, que o valor real (ou seja, a quantidade de votos que o candidato receberia se a eleição ocorresse no momento da pesquisa) está entre 29% e 35%!
Mas o que significa uma confiança de 70%? Isto indica que, se a pesquisa for repetida várias vezes com grupos diversos, em aproximadamente 70% dos casos, o resultado estará dentro da margem de erro!
Assim, a probabilidade do resultado da eleição não refletir as últimas pesquisas é de 30%. Esta não é uma probabilidade desprezível, então é de se esperar que de vez em quando isso ocorra…
Isto explica o caso de 2010 – mas e o caso deste ano? Bem, quando escolhemos quais eleitores farão parte da amostragem, é importante que os escolhamos aleatoriamente pelo território inteiro (no caso de eleições presidenciais, por todo o país) para eliminar alguns efeitos desagradáveis. Por exemplo, caso se priorize uma determinada região que historicamente privilegia um determinado partido, então o candidato deste partido deve acabar liderando as pesquisas. A este tipo de amostragem chamamos de enviesada ou tendenciosa.
Isto é um erro metodológico, mas pode ser proposital, caso seja uma pesquisa feita por encomenda. Ainda não sabemos se os resultados de pesquisas realmente influenciam a decisão dos eleitores, mas nossos candidatos parecem acreditar que sim…
Uma pesquisa séria deve então consultar diversos grupos, formados por pessoas espalhadas pelo território inteiro. Ainda assim, a probabilidade desta corresponder à situação real é de 70%. Algumas vezes, portanto, calha da coisa sair bem diferente do previsto…