Imagine que você tem uma bela fazenda no interior de Minas Gerais. (Eu tenho paixão por Minas Gerais. Saudações a todos os mineiros e mineiras que leem esta coluna. Quem estiver solteirx, comente. Não precisa ter fazenda não. O que eu quero mesmo é dormir de conchinha curtindo o inverno de Ouro Preto ou Diamantina.) Nessa fazenda, você cultiva laranjas, cria tilápias, que você fornece aos restaurantes mais chiques de BH, e gado leiteiro, onde você produz aqueles maravilhosos queijos de Minas com selo do Patrimônio Histórico – sim, há uns queijos deliciosos por lá que são tombados como patrimônio imaterial. Porém, de repente, não mais que de repente, começa a chover muito na sua região e o rio próximo transborda. A previsão do tempo diz que a coisa é séria e não vai parar tão cedo. Você entende que, por mais que seus empregados rezem para São Pedro parar as chuvas, o rio logo alcançará seu laranjal e a força da correnteza arrancará árvores pela raiz e as margens do lago artificial onde você cria seus peixes logo desaparecerão e as tilápias nadarão tão livres quanto os torturadores do DOPS. A casa será inundada. O que lhe resta fazer?
Para começar, aquele quadro do Di Cavalcanti, que você comprou num leilão em Brasília ano passado e alegra a sala de visitas, terá que ser empacotado e mandado para o apartamento da sua irmã em São Paulo. Aquela coleção de livros autografados por Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado, Clarice Lispector, Cora Coralina et alii tem que ser remetida por Sedex para a casa do seu sobrinho em Cabo Frio. Para lá também vai aquele relicário dentro do qual sua bisavó jurava que havia um dente que pertencera a Santa Teresa de Lisieux, porque, embora seja pecado negociar objetos sagrados, numa hora de dificuldade vai que você encontra um devoto disposto a pagar bem por ele… (Se tiver uma bula da Igreja atestando a autenticidade da relíquia, negociá-la será um pecado, mas nunca um crime!) – Você precisa fazer tudo rápido enquanto o caminho até a agência dos Correios está livre. – Aqueles livros do Silas Malafaia que seu cunhado lhe deu não precisa levar, talvez os peixes gostem. – Aí só lhe resta telefonar para aquele deputado da bancada ruralista e vender a ele todo o seu rebanho de gado leiteiro antes que seja tarde. O preço que o deputado lhe oferece não lhe agrada, mas o tempo está contra você e o jeito é aceitar de uma vez. Sempre dá para comprar uma ações ao portador enquanto se espera por dias mais ensolarados. Sim, a desgraça bateu á sua porta, mas dá para salvar alguma coisa antes que o pior aconteça. Essas atitudes que você toma são medidas de redução de danos.
Imagine que, no momento em que chegam os caminhões que você arranjou para que a boiada seja transportada o mais rapidamente possível para o latifúndio do deputado, surja diante da sua porteira uma tropa do Movimento dos Religiosos Sem Pecado, dizendo que você não pode salvar o que lhe resta daquele capital porque é sábado e o Levítico diz que não se deve realizar nenhum trabalho no dia de sábado, santificado por Deus. Que bem esses religiosos estariam fazendo a você e à nossa sociedade?
É isso que o fundamentalismo religioso faz no Brasil e no mundo: impedem governos de promoverem políticas de redução de danos. Quer exemplos? Entre 1988 e 2009, o governo federal dos EUA deixou de financiar programas que distribuíam seringas descartáveis a usuários de drogas, sob o pretexto de que isso os incentivaria a continuarem usando drogas. (Fonte: ARAUJO, Tarso. Almanaque das Drogas. 2ª ed. São Paulo: LeYa, 2014, pág. 193) Isso agradou o eleitorado fundamentalista, porém não distribuir essas seringas é uma política que pode aumentar o contágio de diversas doenças entre os usuários de drogas injetáveis.
Outro exemplo: no mundo todo, os religiosos querem proibir o aborto e fazem campanhas lacrimosas usando imagens de bebês fofos e sorridentes. Porém, como diz o blogger Leonardo Sakamoto: “Uma mulher que está desesperada para abortar vai abortar. Quer você, o Estado e Deus gostem ou não”. E, segundo o dr. Drauzio Varella: “Estudo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro revelou que, em 2013, o SUS internou 154.391 mulheres com complicações de abortamentos. Como a estimativa é de que aconteça uma complicação para cada quatro ou cinco casos, o cálculo é de que tenham ocorrido de 685 mil a 856 mil abortos clandestinos no país.” Um aborto sempre é traumático, não é nada divertido, como parecem acreditar os puritanos que insistem em proibi-lo. O resultado disso é que muitas mulheres pobres colocam suas vidas em risco quando o fazem, enquanto as ricas não são afetadas pela proibição, pois podem fazê-lo em segurança em ótimas clínicas no Leblon ou em Montevidéu. Nesse caso, não importa se a vida começa no momento em que o espermatozoide encontra o óvulo ou quando sistema nervoso começa a se desenvolver: o importante é salvar a vida da mulher, pois o organismo em formação não dá mesmo para salvar.
Assim, da mesma forma que você se esforçaria para salvar suas vacas leiteiras da enchente, uma vez que as laranjeiras e as tilápias já estariam perdidas, o Estado deveria ao menos zelar pela segurança das mulheres, já que os fetos serão abortados, goste o Estado ou não. Mas para isso, é preciso deixar os religiosos comendo a poeira da estrada.
O aborto é horrível, mas a morte da mulher nas mãos de um carniceiro também é. Não é questão de gostar, é questão de entender que a natureza humana estoura os limites em certos momentos e não há conversinha de igreja ou mesmo tratamento psiquiátrico que corrija o desespero e o impulso que leva essas pessoas a tomar uma decisão tão errada. Cabe ao estado defender todas as vidas, mas nesses casos extremos talvez não seja possível salvar mãe e filha!
e eu acredito que com regulamentações, se caso fosse legalizado, o embrião abortado poderia ser usado na terapia gênica… resolveria dois problemas de uma vez, sem contar td instabilidade social que um filho indesejado e mal cuidado causa
porque é muito difícil fuder com camisinha distribuida de graça.
Se o que está sendo tratado é o aborto, então a orientação de usar camisinha é inútil depois que a mulher já está grávida.
Em outras palavras, seu comentário só tem serventia se o assunto for a prevenção de uma gravidez indesejada.
PS.: camisinha e nenhum outro método contraceptivo são 100% eficazes.
Fora que na maioria dos casos, essas mulheres não planejaram o sexo, não planejaram fazê – lo sem camisinha…. Simplesmente aconteceu… Pode até ter sido erro ou fraqueza, mas isso não tira o direito que ela tem sobre o próprio corpo, ao menos não enquanto o embrião não adquire consciência e individualidade.
Fantastica a simplicidade exposta!
Quanto as exposiçoes posteriores, a prevenção e melhor medida que o todo aparato e procedimento invasivo feito via aborto, seja legal ou ilegal, ademais a mulher e o homem antes do ato assumem os riscos tanto da gravidez como os relacionados as dst s.
Ademais a legislaçao atual contempla o aborto legalmente e ao meu ver muito bem.
Quanto os direitos do nascituro a doutrina majoritaria considera amparado o recem nacido vivo como portador de direitos, porem a toda uma diacussao quanto a espectativa de direitos.
Uma informaçao que me vez repensar tudo isso foi a que a partir de determinado tempo de gestaçao ao tentar realizar o aborto o feto luta pela vida se esquivando do equipamento utilizado.
Considerando esse fato me sensibilizei a corrente anti aborto ao bel prazer.
Por fim nao ha como aceitar a argumentaçao que a descriminalização do aborto seria uma saida pra reduçao de internaçoes pode ate ser que sim, mais banalizariamos a vida.
Aborto é assassinato,se a pessoa não tem capacidade de de usar camisinha ou tomar remédios existe um meio mais eficiente para evitar gravidez indesejada é só parar de fazer sexo
Camisinha e nenhum outro método contraceptivo são 100% eficazes.
camisinhas rasgam, remédios tem efeitos colaterais, e não, ninguém vai parar de transar só pra agradar a sua religião
Primeiro que eu não tenho religião, segundo que uma bactéria é um ser vivo quanto mais um feto eu não tenho culpa se vocês são burros e não entendem isso eu nem acredito em Deus caralho
Eu concordo que o melhor é a prevenção e milhares a praticam… Não resolve as várias situações que encontramos. Sabemos por exemplo, que muitos homens abandonam as mulheres quando elas engravidam. Há empregadores que causam dificuldades as mulheres grávidas. Há pais que abandonam a filha grávida. Há também processos depressivos associados à gravidez. Em meses uma situação que era estável se deteriora ao ponto de criar desespero… Não há realmente solução fácil nesses casos.
Qualquer mulher que for abandonada mesmo grávida pode exigir pensão alimentícia e se o cara não pagar é cadeia
E se a mulher não quiser o filho?
E se a mulher não sabe quem é o pai? Tela azul…
Não é problema meu, e se ela pegar hiv?
Ulisses Oliveira Siqueira Parabéns, vc acaba de confirmar o motivo de existir abortos clandestinos no mundo.
A justiça brasileira é lenta, dificilmente se consegue uma solução rápida… dificilmente ocorrerá em 9 meses… e há casos que nem o dinheiro resolve… E quando vai para a cadeia, fica sem dinheiro e ainda é xingada pela família do preso…
Aborto clandestino ou não não deixa de ser assassinato
A mulher tem direito à vida sexual ativa… não deve ser tratada diferenciadamente do homem… e o pai é tão responsável pela criança quanto a mãe… mas vemos com GRANDE frequencia que a sociedade culpa a mãe!
Fazer sexo exige saber dos riscos e responsabilidade
Dani Dutra é triste que uma mãe não queira o filho, mas a doação é perfeitamente possível, sem que a mãe seja punida. Ocorre entretanto uma condição de ódio ou amor associada a gravidez, algumas mulheres nutrem ódio pela criança (ou contra o pai) e outras, ao aguardar a gravidez para fazer a doação, desistem de doar, por que criam amor pela criança… a condição humana é tudo menos estável…
Assassinato? E aquele papo de “isso não é problema meu”. Tá preocupado com a gravidez da mulher agora?
Contraditório alguém que não se importa com os problemas dos outros passar a se importar com a continuidade da gravidez de um filho que nem é seu… Tela azul
A mulher que não sabe quem é o pai do próprio filho que se vire para cuidar,isso não é desculpa para matar
Na hora de fuder é bom pra caramba, mas na hora de assumir a responsabilidade quer pular fora
Não é atoa que acharam que vc é religioso, pq convenhamos, vc tem o mesmo discurso moralista de ditar regras igual um religioso.
Você é não estudou biologia
Não entendi. O que tem biologia a ver com sua abordagem moralista?
Se você não entende de como o ser humano é gerado não vai ser eu que vou explicar então estuda
Pra que perder tempo usando argumentos ou lógica né. Melhor mandar o cara ir estudar, conhecido como falácia de apelo a Ignorância Reverso (você não entende do que eu estou falando, logo, eu estou certo).
Detalhe que isso não refuta quando afirmo seu moralismo “religioso”.
Não sei qual é a parte do assassinato da cadeia você não intendeu, ninguém está acima da lei
Você nunca deve ter estudado a lei da biogenese
Então vamos com exemplos ok.
Imagine sua esposa em várias situações, vou substituir a palavra aborto por um apelo à emoção da palavra “assassinato”:
– SITUAÇÃO 1: sua esposa está grávida de você, porém uma complicação na gestação colocou em risco a vida dela.
Nesse caso, o assassinato é permitido por lei, sua mulher será a assassina, em cumplicidade com vc e o estado que permitirão o assassinato (a menos que sua esposa queira morrer e vc terá um filho sem mãe).
– SITUAÇÃO 2: sua esposa está grávida de você, porém o a criança foi diagnosticada com anencefalia (sem cérebro).
A criança é um vegetal, irá morrer logo após o parto. Mas se você não quiser condenar sua esposa como assassina de criança sem cérebro em ascensão do seu moralismo, basta dar prosseguimento numa gestação inútil.
– SITUAÇÃO 3: sua esposa sofre um estupro e por azar descobre que está grávida fruto da violência sexual.
Uma ótima hora pra dizer a ela que isso não é problema seu, afinal se ela não sabe quem é o pai, que se lasque com a criança. Porém, se você tiver um mínimo de compreensão, entrará um dilema com seu moralismo, afinal: obrigar sua esposa a gerar um filho fruto de violência sexual e obriga-la a carregar esse trauma por toda a vida para não assassinar a criança (fico imaginando a mãe vendo o filho crescer com a cara do paizão, deve ser uma alegria enorme pra vítima de estupro), ou assassinar a criança para amenizar o trauma sofrido por sua esposa.
Só um detalhe, o direito à vida não é absoluto. A lei permite o “assassinato” nesses três casos acima. Mas isso não anula o assassinato não é? Por isso que o moralismo é inútil aqui. Classificar em que casos o aborto deve ser legal ou não tem diferença nenhuma. Não importa se ela será taxada de assassina, não importa se será legal ou ilegal, se ela quiser interromper a gestação, é um direito dela e moralismos só contribuem para um crescente aumento dos índices de abortos e para alimentar o mercado negro das clínicas clandestinas. Parabéns a todos os pró-vida envolvidos.
Vamos aprender a fazer sexo. Sabendo fazer, não precisa abortar.
Impossível. Mesmo seguindo as “regras”, o risco de uma gravidez indesejada sempre existirá (a menos que seja desenvolvido um método contraceptivo 100% eficaz e que todas as mulheres tenham acesso e conhecimento sobre ele, ou pregar a abstinência sexual e relações somente para fins de reprodução).
Os índices podem ser reduzidos, mas com a chance de uma gravidez indesejada sempre presente, o aborto nunca será extinguido.
SE a mulher quer abortar, vamos fazer o que? Ela quem decide!
Caps AD Muriaé-mg