No meu último artigo, “Redução de danos”, no qual demonstrei que legalizar o aborto é uma medida mais do que necessária para proteger as mulheres pobres que decidem por essa desagradável medida (divorciados e divorciadas que me leem, vocês alguma vez sonharam em se divorciar? Não, mas tomaram essa medida desagradável por força da necessidade, não foi?), suscitou reações raivosas de quem não admite que uma mulher decida o que fazer de seu corpo, tal qual os piores fundamentalistas do Parlamento.
Bem, vocês precisam conhecer alguns dados cujas fontes indico.
Quando eu falava de aborto, sempre mencionava os dados fornecidos por Ricardo Batista Amaral, biógrafo e amigo da presidenta Dilma Rousseff, seu assessor quando ela era ministra da Casa Civil, alguém que está bem próximo ao poder e, portanto, eu acreditava, tinha números confiáveis. Deixo aqui um parágrafo dessa biografia:
“A legislação brasileira (da década de 1940) proíbe o aborto, exceto nos casos em que a gravidez põe em risco a vida da mãe ou quando é resultado de estupro. O Brasil é um dos últimos países do mundo ocidental em que a mulher não pode tomar essa decisão. Na vida real, o Sistema Único de Saúde atende a mais de 250 mil casos por ano de mulheres (majoritariamente pobres) que sofrem de complicações provocadas por abortos domésticos, feitos com agulhas de tricô, beberagens e outros métodos bárbaros. Por outro lado, não há cidade média do país que não tenha uma clínica clandestina para atender às mulheres que podem pagar por um aborto assistido. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, as complicações pós-aborto caseiro são responsáveis por 21% da mortalidade natal no país. O procedimento de CPA (curetagem pós-aborto) e o atendimento de abortos incompletos só foram regulamentados e tornados obrigatórios na rede do SUS em 2000 e 2001, quando o ministro da Saúde era José Serra.” (AMARAL, Ricardo Batista.” (A vida quer é coragem – A trajetória de Dilma Rousseff, a primeira presidenta do Brasil”. Rio de Janeiro: Sextante, 2001, págs.268 e 269)
Sim, o nome da biografia da presidenta é “A vida quer é coragem”, mas ela mesma não teve coragem de dizer em campanha, nem em por em prática as ideias defendidas por seu biógrafo! Quem levantou essa lebre na campanha eleitoral de 2014 foram a professora de Inglês e advogada Luciana Genro e o médico Eduardo Jorge.
Eduardo Jorge levantou números bem superiores aos declarados pelo biógrafo de Dilma. Espantei-me e não entendi como ele chegou a esses números. Eis que fui ao site do doutor Drauzio Varella, o médico mais famoso do Brasil, e o ateu mais querido também, e, clicando na seção “artigos’, encontrei o texto “Medicina policialesca”, no qual ele se queixa de um médico que, depois de ter salvo a vida de uma mulher que fizera aborto, denunciou-a à polícia. Cliquem lá no Google e visitem o site dele. Aí eu entendi por que o médico Eduardo Jorge falava nos debates em 800 mil abortos. Drauzio explica:
“Estudo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro revelou que, em 2013, o SUS internou 154.391 mulheres com complicações de abortamentos. Como a estimativa é de que aconteça uma complicação para cada quatro ou cinco casos, o cálculo é de que tenham ocorrido 685 mil a 856 mil abortos clandestinos no País.”
Não defendo a legalização do aborto para matar crianças e sim para salvar mulheres. Como diz o jornalista Leonardo Sakamoto: “Uma mulher que está desesperada para abortar vai abortar. Quer você, o Estado e Deus gostem ou não”.
Defender a legalização do aborto é defender as liberdades individuais. E é uma grande contradição que o Estado me dê o direito de ser ateu mas não me deixe viver como um ateu. – Sim, nem sempre tivemos esse direito. Gosto de contar em sala de aula que uma das filhas de Shakespeare teve que explicar perante as autoridades que zelavam pela ordem social por que razão ela deixou de ir à igreja no domingo de Páscoa. – Mas viver como ateu não é simplesmente ficar em casa assistindo desenhos animados enquanto os vizinhos estão na igreja. É, sendo médico, poder realizar um aborto sem medo de ir para a cadeia; é poder escolher com quem casar, seja qual for o sexo da pessoa a quem amo – o STF nos garantiu esse direito que a bancada religiosa insiste em não colocar na Constituição –, é poder degustar um baseado com a mesma despreocupação de quem degusta um vinho chileno, e por aí vai. Viver como ateu é poder fazer o quanto quiser em relação ao meu corpo – ou ao corpo do outro com o consentimento dele – sem que o Estado venha me impor uma moral que só se fundamenta nas proibições descabidas das igrejas. Aliás, tempos houve em que a Igreja Católica condenava o tabaco e excomungava quem fumasse perto de uma igreja. Os tempos mudam.
Legalizar o aborto é a melhor maneira de reduzi-lo. No dia 15/6/2015, o site de notícias “observador.pt” anunciou “Há cada vez menos abortos em Portugal”. Em 2014, houve 10% a menos de abortos que em 2013. Igualmente, no Uruguai, menos mulheres abortam após a legalização. Por quê? Porque os governantes desses dois países deram às mulheres algo fundamental: um ombro onde chorar e falar livremente. As mulheres que procuram ajuda médica para fazer aborto não estão diante de mercenários que querem, antes de tudo, seu dinheiro, mas de profissionais que buscam seu bem-estar. Psicólogos e assistentes sociais as entrevistam antes que o procedimento seja agendado, e quase sempre conseguem dissuadi-las de realizá-lo!
No ano passado, em meio à campanha eleitoral, uma mulher com menos de 30 anos sumiu no Rio de Janeiro. Seu ex-marido revelou tê-la levado para uma clínica clandestina. Os carniceiros não fizeram o aborto de forma segura, ela morreu e sumiram com seu corpo, depois resgatado pela polícia e duas meninas perderam a mãe. E agora, defensores da família e da vida? Como disse um certo deputado estadual do Rio, toda aquela comoção era porque Jandira tinha morrido. Se ela tivesse sobrevivido ao aborto, chamá-la-iam de criminosa e exigiriam cadeia para ela. Mãe de duas filhas!
Já viram aquele estudo que relaciona a taxa de criminalidade com o aborto?
não, tem link?
https://en.m.wikipedia.org/wiki/Legalized_abortion_and_crime_effect
Acho que o Brasil está longe de ser igual a países desenvolvidos, no momento ele merece o lugar entre outros na África.
obrigada.
O irônico é que o plano da criminalização do aborto deu errado, nunca funcionou e pior: é agente colaborador do aumento de índices que de forma fracassada tenta combater.
Quem quiser fazer aborto vai fazer. Ponto. É uma decisão extremamente pessoal, só cabe a mulher decidir sobre seu corpo. Podem criar quantas leis quiserem, tudo que esses políticos vão conseguir fazer é que mais mulheres recorram a clandestinidade ou pior, que usem meios caseiros. O que é totalmente trágico.
Não é só o corpo dela, o embrião não é um órgão da mulher.
Mas ta no órgão útero e, consequentemente, no corpo da mulher… É pró-vida? Seja a favor do aborto, mortes em abortos clandestinos é a quinta maior causa de morte feminina no Brasil.
Legalizem o assassinato tbm..
Hermínio Neto O embrião depende absolutamente da mulher. Ele é um ser em formação que tem mera expectativa de direito, ao passo que a mulher já é um ser autônomo que possui direitos. Ela não deve ser obrigada a virar uma chocadeira, perder autonomia sobre seu corpo por conta de preceitos arcaicos e patriarcais.
Dalander Pereira você sabe que o aborto é legalizado em caso de estupro e risco de vida , não?
Exato, o aborto já é praticado. Se a mulher quiser abortar, ela vai abortar, independente de leis.
Elas decidem sobre outro corpo. É assassinato. Quem quer matar tem que estar preparada para tudo, até para morrer devido ao ato.
Fabiana Di Santi não é tão simples assim. É outro corpo que está dentro de mim, comendo o que eu como, bebendo o que eu bebo, respirando o ar que eu respiro. Enfim, se utilizando do meu corpo e mulher alguma deve ser obrigada a nada. Ninguem pode tirar a autonomia sobre seu próprio corpo, um feto não pode ter mais direitos que uma pessoa.Além disso, assassinato por assassinato, a interrupção da gravidez é o menor dos males.
Fabiana Di Santi ”Quem quer matar tem que estar preparada para tudo, até para morrer devido ao ato.” Isso é uma escolha da sociedade, ser cúmplice nessas mortes, pois temos tecnologia para tornar o procedimento seguro e tranquilo.
Tentar achar um argumento inteligente para conversar com uma mula é perda de tempo, você deve ser um daqueles ativistas nojentos que estupram crianças.
Raphael van Sagat ad hominem é o seu melhor?
Bruno
Tayla Lacerda
Tayla Lacerda
ou eu sou um puta gênio ou o mundo é muito retardado eu sempre falava que era a fovor dês de que ouvesse acompanhamento psicológico dês de os 12 anos.
ou eu sou um puta gênio ou o mundo é muito retardado eu sempre falava que era a fovor dês de que ouvesse acompanhamento psicológico dês de os 12 anos.
Eu discordo concordando, já pararam pra pensar que todos que são a favor do aborto já nasceram ? mas o mesmo vale para as drogas, se legalizarem, irá diminuir o consumo e acabar com o tráfico, mas as mulheres abortam porque não encontram na lei uma forma de proteção, se for legal irão aprender a amar seus filhos, não por obrigação, mas pelo mais verdadeiro dos sentimentos, porque mesmo que acidentalmente, elas teriam uma escolha…
E todo mundo que fala contra o aborto é porque não morreu por causa de um aborto mal feito.
Para de usar esse argumento lixo… Quem não nasceu não pode dar opinião.
quem não nasceu não pode dar opinião….. mas não me diga …. para de usar esse argumento lixo cara
aliás, entre um monte de outras coisas que quem não nasceu não pode fazer né, como andar , nadar, correr, kkkk é cada idiota que …
esse argumento é tão sem lógica e impertinente. O objetivo seria sensibilizar? Pois se eu pudesse escolher nascer ou não, escolheria não ter nascido.
O objetivo seria sensibilizar?
Rafaella Alves
Rubens Gustavo, veja isso.
O problema não eh aumentar ou diminuir, se trata de uma queatao de vida.
Alexsandro Lino, lembrando que você sabe que países com porte de arma liberado são menos violentos, então você seria a favor de liberar o porte de arma pelo mesmo argumento?
“No, no and no” (WINEHOUSE, Amy).
Até porque a violência menor desses países tem muito mais relação com questões econômicas gerais (menor desigualdade social, melhor distribuição de renda etc.) e não conexão com o fato de as armas serem liberadas.
Se for o caso, posso dizer que o aborto seria pelos mesmos motivos
Também. O Brasil é um caso à parte. Comparar países não dá muito certo por isso. :/
Eu sou contra o aborto pq sou a favor da vida.
Aquele vídeo que te mostrei (se você assistiu) mostra bem o por que de ser contra