A imagem que ilustra este texto chegou a mim via Facebook. Alguém compartilhou a partir de uma página dedicada à umbanda. O desenho não tem assinatura. Mas a partir dele quero especular sobre um tema espinhoso: é possível um mundo sem religião?
Muitos ateus sonham com isso. Esse era um dos sonhos expressos por John Lennon na canção “Imagine”. Eu confesso que não consigo imaginar isso, caro John.
Aquele gênio de nossa língua que, mesmo sendo ateu, conseguir ser prefeito de Palmeira dos Índios e casar com a sobrinha do padre, Graciliano Ramos, escreveu uma bela narrativa que, a meu ver, reconstitui a vida do homem pré-histórico: “Vidas Secas”. Numa época em que Vargas se esforçava para que o Brasil se industrializasse, muitos brasileiros, nas zonas rurais, não viam esse progresso acontecer e viviam, segundo o Velho Graça, como no Paleolítico. Os personagens do romance nem chegaram ainda à condição de Homo erectus, pois Fabiano mal consegue andar ereto. E sentem imensa dificuldade com a linguagem falada. Mas, num determinado momento, vão a uma festa de Natal, socializar-se com seus semelhantes. Comemoram o Natal na pré-História, sem mencionar Jesus, tal como a família Flinstones.
Os ateus falam muito da opressão religiosa: não faça sexo antes do casamento, não faça sexo com pessoas do mesmo sexo, pague o dízimo, aceite os dogmas e mandamentos sem questionar, a mulher tem que ser submissa, blá-blá-blá. Mas a religião não é apenas um amontoado de regras que enchem o saco ou os ovários: é também comemoração. Co-memoração. Lembrar junto. Partilhar alegrias e dores. Porque vivemos em bando, porque somos macacos. Se não fôssemos símios, não viveríamos em bando e não teríamos religião.
Nesse momento, cidadãos do mundo inteiro choram a morte de um menino encontrado inerte numa praia da Turquia e tornou-se símbolo do sofrimento do povo sírio – oprimido pelo Estado Islâmico – maldito fundamentalismo religioso! E essa morte é chorada de mil maneiras: mil artistas a desenham, mil poeta a glosam, milhões de devotos rezam pelo eterno descanso desse garoto. A arte e as preces são o desabafo, o reconhecimento da impotência de cada um desses indivíduos – poetas, artistas, fiéis – que não puderam impedir essa e tantas outras mortes. Enquanto houver sofrimento e morte, a humanidade buscaram meios de lidar com essa dor, de tentar prolongar a existência dos indivíduos – sim, o menino não sabe de mais nada, não sente sequer a decomposição de seu corpo, mas aqui estamos nós dando continuidade a sua curta existência chorando sua perda. No desenho acima, uma pessoa de umbanda expressa seu desejo de que o menino continue existindo em um outro lugar do Universo, um lugar indeterminado, onde seria acolhido por Iemanjá.
E eu aguardo ansioso o momento em que tantos cristãos pedirão a seus sacerdotes que realizem missas de sétimo dia. E, derretidas as velas dessas missas, o que terá mudado para os sírios que buscam refúgio. Se tantas lágrimas, tantas velas, tantas preces, tantos versos, tantos desenhos não mobilizarem os chefes de Estado e de governo para que sejam salvas as vidas que se lançam ao mar, o pequeno Aylan terá morrido em vão. Sua morte não terá contribuído para que salvar outras pessoas. Isso é a dor depois da dor.
Muito difícil, talvez daqui a milhares de anos. E mesmo que todas as religiões fossem erradicadas, cedo ou tarde surgiriam novas. Eu as vejo como muletas emocionais, para ser bem chulo, kkk. Nascem de nossa arrogância em nos acharmos especiais e não aceitar sermos finitos, e também de nossa necessidade em acreditar que deve existir um lugar melhor para compensar as injustiças que aqui acontecem, uma espécie de “dimensão justiceira”. E creio eu que esse tipo de pensamento, ou sentimento, vai acompanhar nossa espécie por muuuuito tempo.
Seria um paraíso…
Seria um caos,já que a religião é o ópio do povo.
Edison, excelente o seu texto. Parte dele será citada em minha tese sobre ficção e pré-história. Já está até nas referências: SOUZA Jr., Edson Amaro. Um mundo sem religião é possível? Papo de Primata. 8 set. 2015. Disponível em: . Acesso em 8 set. 2015. Quando tiver pronta, daqui a alguns meses, te envio.
Abçs.
Meu caro, eu defendi uma monografia na minha especialização em que tratava de “Vidas Secas” como sendo a reconstituição da vidana pré-História. Me adiciona no Facebook, me passa por mensagem seu email que eu te envio esse texto.
Sucesso pra você.
Ah., não tem Jr. no meu nome.
It’s easy if you try.
Seria muito bom se as pessoas pensassem nas religiões apenas como um estilo de vida, como o vegetarianismo! Ninguém mata alguém por ser vegetariano!
Seria muito bom se as religiões simplesmente parassem de incitar o ódio contra outras religiões que não são as suas e começasse a pregar que todos são iguais!
Seria muito bom se as pessoas religiosas não tentassem a todo custo, transformar todas as pessoas do planeta em seus seguidores a força!
O dia em que as pessoas começarem a se respeitar, a respeitar as diferenças uns dos outros, será o dia em que a humanidade dará mais um passo na direção da evolução!
Não é possível. Deus está no controle. Nenhum humano pode acaba a religião de Deus. E os ateus porque se incomoda com religião
Qual deles?
Deus está no controle? E por que não resolve tudo e acaba com o sofrimento dos refugiados?
Que estranho vc dizer isso,todos os religiosos que eu conversei até agora me falaram que deus e religião são duas coisas diferentes…
Seria ótimo, mas sempre vai ter alguma forma de controle da sociedade, ainda mais com um povo tão preguiçoso, quando se entra na questão de pensar por si, e assumir seus atos.
Qdo sai mais 1 dos vídeos sobre Evolução???
Mais utópico do que um mundo com todas as religiões em paz umas com as outras.
Pra quê?
Não é possível pq as pessoas não querem e isso deve ser respeitado… porém saber conviver é necessário e obrigatório
Pelas respostas da galera dá pra ver pq é difícil…
Nosso planeta existe há cerca de 5 bilhões de anos, e somente nos últimos 2 ou 3 mil anos que as religiões surgiram. Então, sim! É totalmente possível um mundo sem religião!
Infelizmente isso só vai acontecer quando a humanidade for extinta.